Jaime Carvalho - Photo
Portraits
Portrait photography is in my chosen theme. Portrait of ordinary people in their day to day without poses or light effects. The choice of black and white to better transmit all emotions, authentic moments and life experiences of the people I photograph
Não, não é cansaço... É uma quantidade de desilusão Que se me entranha na espécie de pensar, E um domingo às avessas Do sentimento, Um feriado passado no abismo... Não, cansaço não é... É eu estar existindo E também o mundo, Com tudo aquilo que contém, Como tudo aquilo que nele se desdobra E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais. Não. Cansaço por quê? É uma sensação abstrata Da vida concreta — Qualquer coisa como um grito Por dar, Qualquer coisa como uma angústia
Go to linkTudo para mim é um duvidar Com a normalidade sempre em cisão, E o seu incessante perguntar Cansa meu coração. As coisas são e parecem e o nada sustém O segredo da vida que contém. A presença de tudo sempre perguntando Coisas de angústia premente, Em terrível hesitação experimentando A minha mente. É falsa a verdade? Qual o seu aparentar Já que tudo são sonhos e tudo é sonhar? Perante o mistério vacila a vontade Em luta dividida dentro do pensar, .....
Go to link"Não me indigno, porque a indignação é para os fortes; não me resigno, porque a resignação é para os nobres; não me calo, porque o silêncio é para os grandes. E eu não sou forte, nem nobre, nem grande. Sofro e sonho. Queixo-me porque sou fraco e, porque sou artista, entretenho-me a tecer musicais as minhas queixas e a arranjar meus sonhos conforme me parece melhor a minha ideia de os achar belos. Só lamento o não ser criança, para que pudesse crer nos meus sonhos." "Eu não sou pessimista, ...
Go to linkQuanta tristeza e amargura afoga Em confusão a 'streita vida! Quanto Infortúnio mesquinho Nos oprime supremo! Feliz ou o bruto que nos verdes campos Pasce, para si mesmo anônimo, e entra Na morte como em casa; Ou o sábio que, perdido Na ciência, a fútil vida austera eleva Além da nossa, como o fumo que ergue Braços que se desfazem A um céu inexistente. Ricardo Reis, in "Odes"
Meu coração quebrou. Era um cedro perfeito; Mas o vento da vida levantou, E aquele prumo do céu caiu direito. Nos bons tempos felizes Em que ele batia, erguido, Desde a rama às raízes Era seiva e sentido. Agora jaz no chão. Palpita ainda, e tem Vida de coração... Mas não ama ninguém. Miguel Torga, in 'Diário (1942)'
Febo há muito desceu no Ocidente Por trás dos montes de rosa tingidos; Eu, sofrendo, cerro os olhos doridos Olhando o mundo que ante mim se estende. Pois pela noite o rio silente desce, Oculto no escuro já voa o morcego; Mas, nocturna, a alma não tem sossego, É na escuridão que meu horror cresce. Odeio a noite que a mim se assemelha, Só que em mim, nem astro ou centelha Dispersa as nuvens da alma e da mente. Mas como a noite em seu manto sombrio, Calado e escondido
Go to linkAntónio, é preciso partir! o moleiro não fia, a terra é estéril, a arca vazia, o gado minga e se fina! António, é preciso partir! A enxada sem uso, o arado enferruja, o menino quere o pão; a tua casa é fria! É preciso emigrar! O vento anda como doido – levará o azeite; a chuva desaba noite e dia – inundará tudo; e o lar vazio, o gado definhando sem pasto, a morte e o frio por todo o lado, só a morte, a fome e o frio por todo o lado, António! É preciso embarcar! Badalão! Badalão! – o
Go to linkEscrever a Minha Biografia Se depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia, Não há nada mais simples Tem só duas datas — a da minha nascença e a da minha morte. Entre uma e outra cousa todos os dias são meus. Sou fácil de definir. Vi como um danado. Amei as cousas sem sentimentalidade nenhuma. Nunca tive um desejo que não pudesse realizar, porque nunca ceguei. Mesmo ouvir nunca foi para mim senão um acompanhamento de ver. Compreendi que as cousas s
Go to linkO homem superior difere do homem inferior, e dos animais irmãos deste, pela simples qualidade da ironia. A ironia é o primeiro indício de que a consciência se tornou consciente. E a ironia atravessa dois estádios: o estádio marcado por Sócrates, quando disse «sei só que nada sei», e o estádio marcado por Sanches, quando disse «nem sei se nada sei». O primeiro passo chega àquele ponto em que duvidamos de nós dogmaticamente, e todo o homem superior o dá e atinge. O segundo pas
Go to linkNo ciclo eterno das mudáveis coisas Novo inverno após novo outono volve À diferente terra Com a mesma maneira. Porém a mim nem me acha diferente Nem diferente deixa-me, fechado Na clausura maligna Da índole indecisa. Presa da pálida fatalidade De não mudar-me, me infiel renovo Aos propósitos mudos Morituros e infindos. Ricardo Reis, in "Odes"
Estás só. Ninguém o sabe. Cala e finge. Mas finge sem fingimento. Nada 'speres que em ti já não exista, Cada um consigo é triste. Tens sol se há sol, ramos se ramos buscas, Sorte se a sorte é dada. Ricardo Reis, in "Odes"
No breve número de doze meses O ano passa, e breves são os anos, Poucos a vida dura. Que são doze ou sessenta na floresta Dos números, e quanto pouco falta Para o fim do futuro! Dois terços já, tão rápido, do curso Que me é imposto correr descendo, passo. Apresso, e breve acabo. Dado em declive deixo, e invito apresso O moribundo passo. Ricardo Reis, in "Odes" Heterónimo de Fernando Pessoa
Aqui, na Terra, a fome continua, A miséria, o luto, e outra vez a fome. Acendemos cigarros em fogos de napalme E dizemos amor sem saber o que seja. Mas fizemos de ti a prova da riqueza, E também da pobreza, e da fome outra vez. E pusemos em ti sei lá bem que desejo De mais alto que nós, e melhor e mais puro. No jornal, de olhos tensos, soletramos As vertigens do espaço e maravilhas: Oceanos salgados que circundam Ilhas mortas de sede, onde não chove. Mas o mundo, astronauta, é boa
Go to link